“O meio impresso vai acabar, já está acabando”. Está é uma das afirmações do jornalista investigativo da revista Carta Capital e blogueiro Leandro Fortes. O autor de alguns livros, entre eles “Jornalismo investigativo” e “Cayman: o dossiê do medo”, concedeu entrevista para o blog do CACOM no Encontro Mundial dos Blogueiros e, em breve, estará em Londrina realizando uma palestra organizada pelo CA.
Qual sua expectativa do evento?
Minha expectativa deste evento era de conciliar agendas entre as demandas dos blogueiros do Brasil com as dos outros países. Nisso acho que chegamos num consenso rápido, porque parece que as necessidades, os problemas, as angústias e os objetivos de todos são os mesmos. Neste aspecto acho que a expectativa foi amplamente cumprida no encontro.
Você considera valida esta troca de experiência entre blogueiros do mundo todo?
Não só é valida como é fundamental, para compreendermos este fenômeno globalmente. Temos que sair um pouco de nossa tribo, de nossa aldeia, para poder entender como funciona este mesmo fenômeno brasileiro em outros lugares. Descobrimos, por exemplo, que o mundo está cada vez mais globalizado inclusive nestas questões de internet, com todos sofrendo os mesmos problemas e buscando as mesmas soluções.
Em relação às novas redes, você acha que elas vão influenciar o jornalismo de que maneira?
Elas já influenciaram. O jornalismo já não é o mesmo com a internet, sobretudo por conta das redes sociais. Nós jornalistas perdemos a intermediação exclusiva com a notícia. Antes só nós tínhamos a capacidade, a técnica e a possibilidade de passar a informação para alguém. E agora não.
Você possui um blog e trabalha também para o meio impresso, como faz o gancho entre eles?
Na verdade o meio impresso vai acabar, já está acabando. Em pouco tempo, vocês, que são a geração mais nova, vão lembrar de jornal e revista como eu lembro hoje de radiola, da vitrola. Jornal é uma coisa antiga, velha, da revolução industrial. Nós já estamos na revolução digital há bastante tempo. Essa sobrevivência do papel, das revistas, dos jornais é uma questão empresarial que não pode acabar de uma hora para outra. Mas eu me sinto hoje muito mais um jornalista digital do que do impresso. Inclusive a revista Carta Capital repercute muito mais no meio digital do que no impresso.
Por que há ainda certo temor dos jornais do meio impresso em se readequar com a nova realidade?
Porque os jornais são velhos e a cabeça deles também. A tendência destas empresas, destes negócios é temer a mudança, se apavorar com a mudança, porque ela significa o fim deles. Quem não se adaptar vai morrer. Aliás, é a premissa de toda evolução em qualquer aspecto.
Mudando um pouco de assunto, vamos falar sobre jornalismo investigativo, como é a prática dele, como se chegar às informações necessárias?
O jornalismo investigativo é a sistematização de várias práticas dentro do jornalismo. É uma coisa que se aprende um pouco na faculdade, mas aprende muito na vida, com a experiência. Investigar jornalisticamente é você apurar cada passo daquilo que você precisa fazer. Isto demanda tempo e paciência, sem contar com experiência e fontes que possam nutrir as informações. Não tem muito mistério, é muito mais suor e prática do que tudo.
A periodicidade do jornalismo acaba atrapalhando investigações?
Para fazer investigações jornalísticas precisa de tempo e dinheiro. Por isso se faz cada vez menos investigações jornalísticas na imprensa brasileira. O jornalista precisa sair de sua rotina. Às vezes é preciso ficar dois, três meses investigando uma única coisa, sem perder o foco dela. Também é preciso viajar, comprar equipamentos. Enfim é caro e demanda tempo, Daí se tem cada vez menos gente realizando jornalismo investigativo na imprensa brasileira.
Por Guilherme Vanzela
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