O movimento estudantil não existe
à toa. Como não existe à toa nenhum Movimento Social, Coletivo de
reivindicação, ato político, ONG ou cidadão esclarecido. A reitoria da USP foi
ocupada por estudantes no dia primeiro de novembro com um propósito e, concordemos
ou não, independentemente do que essas pessoas façam na vida privada (se fumam
maconha, transam antes do casamento, usam moletons GAP ou comem carne vermelha,
bom, não cabe à discussão) o fato que provocou essa resposta estudantil, que
não foi violenta em momento nenhum, não pode ser ignorado.
Há alguns anos a USP não permitiu
que se realizasse uma obra que levaria um metrô para dentro da Universidade.
“Gente diferenciada” faz lembrar algo? Não é coincidência. A reitoria, e não é
só na USP, tem adotado um papel que é de combate às classes baixas,
evidentemente. A Universidade esqueceu o compromisso com a comunidade externa
e, ultimamente, o contato com o mundo parece interessar apenas a alguns alunos
e poucos funcionários.
Na UEL, por exemplo, os alunos
influenciam pouco – ou nada – na escolha de reitores e chefes de departamento.
A estrutura da eleição é arquitetada de tal forma que os votos de alunos valham
menos que outros votos. E a estrutura da eleição é votada em conselhos onde
estão presentes cerca de 7 ou 8 professores e 2 ou 3 alunos (o cálculo da
representatividade é percentual, então isso varia a cada curso, conforme o
número de professores e alunos. O caso citado é o de Jornalismo, único que
conheço a fundo).
A Universidade, entretanto, esqueceu
que a sua razão de ser é o aluno. O preço do RU sobe, as vagas para moradia
estudantil caem, as estruturas das salas continuam as mesmas há sabe-se lá
quanto tempo e a política de elitização é fermentada diariamente, come pelas
peradas e pegará os desavisados de surpresa, mais cedo ou mais tarde, se nada
for feito.
Inúmeros cursos tornam-se
integrais ou apenas matutinos, as políticas de permanência são tão escassas
quanto o material (técnico E didático) a que se pode recorrer. Essa situação se
repete em grande parte das universidades públicas do país e como o movimento
estudantil, ansioso por soluções, é encarado?
Estudantes e professores da USP
estão sofrendo processo administrativo por terem feito manifestações públicas
em sinal de desaprovação à reitoria e ao governo de São Paulo. Alguns, consta,
foram expulsos ou demitidos. A Universidade conveniou-se com a Polícia Militar.
O que significa que a reitoria deu aval para que os estudantes fossem agredidos
e entendeu isso como solução. Entendendo, portanto, que os alunos são o
problema.
O ato de ocupação da reitoria foi
uma decisão tomada em assembléia geral. E uma resposta à agressão e prisão que
um grupo de alunos cabeludos e vestidos de forma estranha (nem quero imaginar o
que é ‘normal’ pra essa gente) que conversava em frente à biblioteca da
Faculdade de Humanas da USP e tinham nos bolsos algum baseado.
Os estudantes reivindicam a saída
da PM e a revogação dos processos administrativos instaurados. Vale lembrar que
quando a ocupação teve início o esforço da reitoria agiu no sentido de cortar
os sinais de telefone e wi-fi, ou seja, impedir a comunicação em lugar de
negociar.
Se a PM fosse justa e
representasse a sociedade, essa ação de desocupação teria se iniciado MUITO
antes. E teria tirado, não os alunos, mas os reitores que bombardeiam a moradia
estudantil e, especula-se, agem com demais forças “políticas” visando a
privatização da Universidade.
Todo nosso apoio aos estudantes
que encaram o movimento estudantil com seriedade, que não se calam e não
admitem que a universidade pública se torne mais um segregador social. Toda admiração
aos cidadãos que entendem a gravidade da situação e tudo que está em jogo,
incluindo a liberdade coletiva, individual e de expressão. E, por fim, todo o
nosso repúdio às ações truculentas da PM e, vale o adendo, da mídia. Porque foi
a mídia quem fez o show. O que os estudantes fizeram, chama-se política.
Por Isabela Cunha; apoiado por todos os integrantes do C.A.