sábado, 21 de abril de 2012

A quem recorrer?


Não é novidade para ninguém que nossa sociedade ainda sofre com resquícios da Ditadura Cívico-Militar. Basta ver que não conseguimos nem sequer punir pessoas que cometeram crimes de lesa-humanidade. Infelizmente, tal impunidade ainda repercute na maioria das ações policiais que cometem grandes atrocidades, sem haver qualquer tipo de sindicância ou apuração.

Recentemente vimos os casos da USP e do Pinheirinho que chocaram nossa sociedade. Porém não vimos nenhum policial sendo punido criminalmente por cometer excessos, apenas manifestantes sofreram com isso. Por outro lado, estes dois casos, ao menos, tiveram repercussão nacional. No entanto, há tantos outros que ocorrem e que sequer tomamos conhecimento que, analisando friamente, começam a dar repulsa por aqueles que, teoricamente, deveriam nos proteger.

Madrugada de sábado, por volta da uma da manhã, na Garagem Hermética, espaço alternativo tradicional da cidade de Londrina. A festa mal começava e, de repente, surgem diversos policiais armados com revólveres e metralhadoras ordenando a todos que saíssem do local, formassem uma fila e colocassem as mãos na cabeça. Ao serem questionados do porque apontar armas para as pessoas eles respondiam: “Quer ir para o camburão?”. Engraçado que esta mesmo frase foi repetida por diversos policiais. Deve haver algum tipo de entendimento entre eles de que ao serem questionados devem convidar as pessoas para um passeio.

Deve-se ressaltar que a ação foi comandada pela Polícia Militar. No entanto, havia carros da CMTU, vigilância sanitária e da prefeitura de Londrina. Tinha cerca de 12 carros na operação. Infelizmente não sabemos ao exato o motivo da operação policial. Isto ocorre não por falta de apuração e, sim, por impossibilidade de diálogo. Pedi para conversar com pessoas de todos os órgãos presentes e ninguém podia falar oficialmente. Ao questionar onde se encontrava o responsável policial da operação, um sargento me fez apagar diversas fotos que havia feito, me convidando para a tradicional voltinha.

O que sabemos é que fecharam o Espaço da Garagem Hermética alegando haver menores de idade no local. Realmente havia menores no lugar e todos sabem que em nossa legislação alguns meses de diferença “mudam” a vida das pessoas. Partindo da premissa de que somente maiores de 18 anos podiam frequentar o lugar, concordamos que havia irregularidades. Mas isso não justifica o uso da violência por parte dos policiais.

Pode até parecer piada, mas houve, inclusive, agressões físicas. No entanto, o assédio moral que quem estava presente sofreu foi absurdo. Em primeiro lugar obrigaram todos a ficar mais de 15 minutos com as mãos na cabeça, enquanto “apalpavam” todo mundo. As apalpadas mais pareciam com agressões, principalmente quando ocorriam nos órgãos genitais. O resultado da revista foi “satisfatório”, nada apreendido, nenhum miligrama de droga.


Ficam-se alguns questionamentos: Foi necessária a utilização de tamanho contingente policial? Foi necessário tratar as pessoas como criminosas? Alguém ofereceu algum tipo de resistência que justificasse a violência aplicada? Será que nenhum veiculo midiático ficou sabendo desta operação? Aliás, não sabem ainda, porque não se viu nenhum tipo de cobertura deste caso. É nestes momentos que vemos o quanto somos vulneráveis. 


Por Guilherme Vanzela




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7 comentários:

  1. Fora a falta de organização. É como eu disse, se for pra fazer, que faça certo. Eles não pediram o documento para todas as pessoas, tanto é que alguns menores foram "liberados" por dizerem que já tinham 18 anos. Não estou dizendo que era para terem pego os que se livraram do fichamento, mas achei isso inustiça com os que tiraram a "fotinha" na frente do carro da polícia. Enfim, é o trabalho deles, não podemos acusá-los disso, mas que façam o trabalho de maneira correta, sem agressão física e moral, e com respeito.

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  2. Pior de tudo..... denúncias que geram esse tipo de abordagem... 95% das vezes vêm das casas noturnas concorrentes... verdade ou mentira???? Só investigar para ver... Não é a primeira vez que um bar noturno do mesmo gênero recebe o mesmo tratamento....

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  3. Desculpem a sinceridade, mas esse post é quase um equívoco.

    Está claro que houve abuso na ação e acho essa indignação completamente legítima. O que não dá é pra citar lutas sociais (com o caso USP e o caso Pinheirinho) no meio disso tudo, como se existisse alguma semelhança. O único resultado disso é que vocês vão perder força de argumentação ideológica, apenas isso.

    Não sejam inocentes a ponto de achar que trazendo meia dúzia de conceitos batidos (resquícios da ditadurazzzzzzzzzz)vocês vão conseguir ser mais respeitados.

    Longe de mim querer ser reacionário, mas existe mais gente errada nessa história além da Polícia. Tenham sempre isso em mente.

    A gente sabe que a polícia é mal treinada, não sabe agir de maneira adequada. A gente sabe que em Londrina isso é potencializado porque há uma noção (pregada pela própria imprensa) de que a PM é justiceira, leal, incorruptível.

    Eu acho que dá pra se indignar com inteligência e sem exageros. Exagero de argumentação é quase tão grave quanto qualquer outro tipo de violência.

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    1. Respeito sua opinião. Importante opiniões divergentes, apesar de eu considerar um equívoco seu comentário e seus argumentos batidos. Vale a pena ler o texto novamente e ver o porquê dos conceitos que você critica terem sido utilizados.

      Abraço, Guilherme Vanzela

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    2. Tenho que concordar com o Gustavo. Não estou aqui para defender a polícia, mas a AIFU é uma operação realizada em todo o estado e que já prendeu e fechou vários estabelecimentos muito piores que a Garagem. Não é do comando só da Polícia Militar, como vocês escreveram e sim da Secretaria de Segurança Pública, que envolve não só a polícia, como bombeiros, vigilância sanitária e outros órgãos estaduais e municipais. Vi comentários no facebook de que o Siate estava presente, no entanto, a foto mostra uma viatura do Bombeiros e não uma ambulância do Siate. Há falhas? sim. Concordemos com a Mariana, de que se faça bem feito. Mas, no contexto geral, qual o objetivo de uma operação integrada entre vários órgãos e instituições? Acredito eu que seja a segurança de todos. Nesse caso é óbvio que a abordagem por parte dos policiais tem que ser a mesma para todos. Não importa se somos jornalistas, médicos, advogados ou qualquer coisa do tipo, somos cidadãos como qualquer civil. E se houvesse drogas no local, pessoas armadas, afinal, não houve fiscalização na hora da entrada. E se a polícia deixasse todos "à vontade", alguém tivesse uma arma e começasse a atirar. E se seu melhor amigo, sua namorada (o) fosse atingido? Iriam criticar a polícia pela má ação! A garagem não tinha alvará para funcionar da maneira com vinha fazendo, nem saída de emergência, janelas ela tinha, se ocorresse um incêndio ou a estrutura desabasse? Muita gente poderia morrer pisoteada. Como se sentiriam? Conheço pessoas dentro que própria PM que já foram batidas e só depois os policias descobriam que faziam parte da mesma corporação. Mas a abordagem foi a mesma. Sabemos que não era o caso de vocês,que não portavam nada e só queriam festar,mas os "menores" sabiam que estavam errados e não poderiam estar lá, sabiam das consequências e decidiram correr o risco de ocorrer algo como o que aconteceu.Se você está errado e não cumpre as "leis" como reclamar da ação "errada" da polícia? Acho que foram precipitados e não agiram como verdadeiros jornalistas, estão agindo como qualquer civil desinformado, postando informações com base no achismo e na indignação de vocês, se realmente são jornalistas, deveriam procurar se informar a respeito de uma operação como essa. Visando o bem de TODOS, acredito que a ação integrada sempre é bem-vinda para aumentar a segurança, fiscalizando e interditando os estabelecimentos irregulares, como era o caso da Garagem.

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    3. Vamos lá. Vou tentar novamente explicar o que está escrito no texto, talvez umas aulas de interpretação de texto e de legislação caiam bem antes de um comentário destes.
      Em primeiro lugar, em uma operação destas a polícia vai apenas para auxiliar a ação de outros órgãos, como a vigilância sanitária e a CMTU, Havendo resistência a polícia entra em ação, o que não foi o caso.
      Em segundo lugar, foi colocado no texto que tentamos apurar do que se tratava a operação e em troca recebemos ameaças e agressões.
      Em terceiro lugar, há uma brecha na legislação que diz jovens entre 16 e 18 anos podem frequentar casas noturnas, desde que não consumam bebidas alcoólicas.
      Em quarto lugar uma simples denúncia de consumo de drogas não justifica a revista de civis. É necessário evidências para isso, o que não ocorreu. Desse modo, se alguém falasse haver drogas em uma redação legitimaria a revista de todos que ali trabalham.
      Em quinto lugar convido você para escrever um texto, para ser postado no blg, que me ensine como um verdadeiro jornalista deve se portar, visto que você colocou que eu não sei.

      Guilherme Vanzela

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    4. Antes de tudo eu acho equivocado a opinião de quem realmente não esteve presente. Muitos comentários dos que estavam lá foram escritos com euforia por ter passado por essa situação no mínimo 'constrangedora' e alguns deslizes na intensidade do comentário devem ser relevados.
      Porém ouvimos falar diariamente dos abusos da polícia, não são poucos e não acontecem somente com jornalistas, acontece com todo mundo. Isso porque ouvimos falar alguns, e os outros que não tomamos conhecimento? Existem representantes de órgãos públicos que se gabam por usar um distintivo/farda. Todo mundo conhece essa história. Um exemplo bem claro é da senhora que no momento, em frente ao Garagem Hermética, se passou por Juíza, sendo promotora.
      Ao contrário da Angela, acho que tanto o Guilherme como todos que 'deram a cara-a-tapa' aqui foram jornalistas em sua mais nobre essência, criticaram o que estava errado. A ação truculenta e boçal por parte dos militares.

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