sábado, 18 de junho de 2011

#MarchadaLiberdade Londrina

Se eu for livre pra considerar olhos de crianças ou buzinas como termômetros, eu posso dizer que a versão londrinense da #MarchadaLiberdade foi um sucesso.

Antes que eu me meta a contar a história do fim pro começo: Hoje, sábado, dia 18 de junho de 2011 realizou-se em Londrina a #MarchadaLiberdade. O que, a princípio, era a #MarchadaMaconha, tomou uma forma muito maior, envolveu inúmeras insatisfações/pedidos/anseios, e “culminou” numa manifestação nacional: Várias marchas - umas maiores, outras menores - em várias cidades – que também não são do mesmo tamanho - e com várias pessoas, que certamente não são iguais mas que tiveram em comum alguma insatisfação forte o bastante pra, pelo menos hoje, colocá-las na rua.

O sábado londrinense amanheceu ensolarado. Ali pela uma da tarde a galera começou a chegar à praça-ao-lado-da-catedral. Tintas, papeis, cartolinas, avesso de banners, gente e ideias começaram a aparecer como se brotassem daquele cimento sujo de cocô de pomba que a gente já conhece bem.

Em um intervalo que eu não consegui medir, dezenas de cartazes ficaram prontos, feitos por dezenas de mãos. O número de gente ia engrossando e voltas eram dadas em busca de mais papel pra fazer mais cartaz pra que mais gente pintasse e pudesse empunhar mais desejos. “Me deixe ser”.

Nesse momento que – salvo o planejamento – pode ser chamado de primeiro momento da marcha, muita coisa linda acontecia. Gente no chão se debruçava sem pudor, pintava. Gente em pé “Me dá um pincel?” “divide o papel?” “E se você fizesse assim...”. Alguém perguntava onde tinha torneira, fotografavam, filmavam, ensaiavam batidas. Uma mãe que trazia os filhos adolescentes pedia informações, enquanto duas filhas de outra “mãe-em-marcha” também chamavam atenção: Em que pode resultar uma soma de vários papéis em branco, vários potes de tinta das mais variadas cores e duas crianças?

A coisa, com as meninas que deviam ter uns 4 anos, começou tímida. Primeiro perguntaram se podiam pegar uma cartolina e fazer um desenho. Claro que sim. Aí a mãe sugeriu que a Anne Marrie – que já sabia escrever – protestasse contra as palmadas. A Anne Marrie tinha um bocado de personalidade e respondeu que queria só desenhar, mãe. Depois, um pouco mais envolvidas com aquele monte de adultos que também sentavam no chão, metiam o dedo na tinta e curtiam uma folha em branco, elas resolveram que não queriam mais notícia ruim no jornal. A mãe incentivou: “Então coloca aí: C. O. N. T. R...” “vai demorar? Acho que eu quero só desenhar mesmo.” E desenhou. Anne Marrie e a irmã meteram as mãos nas letras que acabaram de desenhar segundo o ditado da mãe e, antes que eu pudesse notar, dois pares de mãozinhas estavam completamente cobertos de tinta. E a cartolina também.

Deve constar aqui que até a marcha sair da praça as duas já tinham tinta por todas as partes descobertas do corpo: “Tia... Eu sou o Hulk”, “Sério? Então bate aí”. Mais duas mão sujas.

Cartazes secos, nós saímos. Avenida Miguel Blasi, Rua Pio XII, Avenida Higienópolis, Avenida JK, Avenida Rio de Janeiro. Os gritos iam de “Barbosa, Canalha, voz do povo não cala!”, “Quem não pula quer censura”, “Maconha sim, Barbosa não: eu repreendo é a corrupção” até “Contra repressão, liberdade de expressão”, “vem, vem, vem pra rua... Contra censura”, passando por outros inúmeros de que eu, sinceramente, não me lembro. Além do momento (que mais uma vez eu não medi) em que todos os manifestantes fizeram silêncio absoluto. A razão? “Tem hospital nessa quadra, galera, dá um tempinho!” alguns gritos mal avisados rolaram, seguidos de ondas de “shhhhhhhiu” até o festejadíssimo “JÁ PODE GRITAR DENOVO, GALEEEEEEERA”.

A marcha terminou ali pertinho do cemitério São Pedro, numa esquina com rap, grafitagem e trocas. Por algum tempo ainda expusemos os nossos cartazes, que foram fotografados, lidos, vaiados, elogiados. Enfim... Notados! E depois foram trocados, como os abraços, contatos, ideias... e essas coisas que ironicamente não trocamos por nada. O dia acabou e voltamos pra casa. Cansados.

Não sou capaz de dizer o número de pessoas presentes e se ele variou. Chuto uma média de 150 (note bem o “chuto” e a “média”). Não consigo, também, dizer qual o tema mais pintado ou gritado durante a marcha. Os cartazes pediam o não armamento da guarda municipal, igualdade de gênero, de orientação sexual, mais bicicleta nas ruas, legalização da maconha, “mãos ao alto, isso é a copa”, legalização do aborto, “Fora Barbosa”, educação, preservação florestal, cotas, fim do preconceito, liberdade de ser, estar, ir, vir, dizer, pensar, querer, pedir, dar... Além do cidadão que levava uma “placa” de “proibido pimenta” que eu não sei se entendi, mas achei graça.

O texto não pretende definir o posicionamento do CA quanto à legalização da maconha e as reivindicações da marcha. Nós estávamos lá por motivos individuais e coletivos. E porque somos a favor, antes de tudo, da discussão. Aberta. Limpa. Que considere e respeite tantos lados quanto for possível.

Enfim, essa foi a marcha da liberdade e o sinal de que algo está acontecendo. Eu não sei se em Santa Maria tinha uma Anne Marrie, se em Salvador tinha uma placa “contra pimenta”, se em Vitória tinha um hospital no meio do caminho e se fizeram silêncio. Eu sei que, com 150 pessoas, nós podemos dizer que Londrina participou da #MarchadaLiberdade sim e sei que podemos assinar em baixo: “em casa somo um, mas juntos somos todos!”.

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